O tempo prometido
Há fogo nas esquinas.
Sem as pessoas da lei
para conter
nem o fogo
nem nosso ânimo,
dançamos celebrando
o calor e a luz que vêm das labaredas.
Ainda não é hora.
Somos cada vez menos e mais doentes.
O tempo que foi prometido para nós
não chegou.
Insistimos,
loucos e fracos,
dançando para as fogueiras improváveis.
Insistimos,
exilados no tempo imprevisto
como guardiões de um segredo que não nos contaram.
Já duvidamos de nós.
É doloroso guardar uma chama
que já não sabemos se foi apenas sonhada.
Não sabemos viver de outra forma.
Mesmo poucos, fracos,
doentes e loucos,
É desse fogo que nossa carne é feita.
Vamos celebrar palitos de fósforo
e reverenciar poças d’água,
como se fosse o lago de onde pode surgir a Dama.
Não vamos dar certo.
Não vamos caber.
Não vamos agradar.
Não estamos aqui pra brincadeira.